sábado, 23 de julho de 2016

Torchwood - Review (com spoilers de uma série acabada em 2011)

Há muito tempo eu sou fã de Doctor Who e estava muito curioso para ver o spin-off da série, Torchwood, que já nasce com uma história bacana, visto que Torchwood é um anagrama para Doctor Who e que esse era o nomes que o pessoal que queria reviver Doctor Who em 2006. Ou seja, top secret na BBC. E bem, com o sucesso que Doctor Who acabou fazendo, vieram os spin-offs. Para histórias mais infantis veio The Adventures of Sarah Jane Smith. E para temas mais pesados, veio Torchwood, com o personagem de Doctor Who, Jack Harkness.

Russel T. Davies é um cara que quando eu vejo um trabalho dele eu reconheço, seja pela direção, roteiro ou pelo estilo do cara mesmo. E vi muito disso em Torchwood e já adianto: foi difícil ver as duas primeiras temporadas de Torchwood que para mim tiveram poucos altos e muitos baixos. A começar que pareceu-me muito com a primeira temporada da nova série do Doctor Who, com o Christopher Eccleston e essa é a temporada que eu menos gosto. Já vi muita reclamação com relação a algumas histórias com o David Tennant, com a Martha, e eu digo plenamente que gostei de todos os episódios com o Tennant.

Acho que isso se deve ao fato do David Tennant. Seu doutor é um dos mais carismáticos, energético, engraçado, um dos melhores sem dúvida. E em Torchwood temos apenas o capitão Jack Harkness que apesar de também ser carismático e engraçado, não é a mesma coisa que o excêntrico e divertido doutor.

E sinceramente eu gostei quando o Tosh e a Owen morreram, para mim eram os personagens mais chatos. Mais chatos até do que o Ianto que servia mais de faz-tudo em Torchwood do que outra coisa. Owen até teve um desenvolvimento interessante, especialmente com o negócio dele ser um morto-vivo. E a Toshiko teve bons episódios, mas na maior parte do tempo eu não via uma química entre os atores que justificasse uma paixão entre os personagens, pelo menos da parte da Tosh, e não os via encaixados com os outros personagens. Só com o Jack.
E antes que eu me esqueça, Jack e Ianto são o casal gay mais legal que eu já vi na TV.

E então veio a terceira temporada com Children of Earth e cara, eu adorei essa temporada. A série seguia um caso por episódio e estava enchendo o saco isso. Doctor Who diversas vezes seguiu esse modelo, mas era algo divertido, ou dramático ou com reviravoltas. Os roteiros de Torchwood sempre me pareceram que eram ideias que foram descartadas para Doctor Who. E Children of Earth é digno de Doctor Who, com momentos de alívio cômico bem vindos, cheio de carga dramática boa, um roteiro bem estruturado, reflexões, ou seja, só o melhor de Russel T. Davies.

E então tivemos Torchwood Miracle Day. A maioria dos blogs que eu vi não gosta de Miracle Day e eu vi que muitos fãs também não, dizendo que a parceria com a Starz deixou a série muito descaracterizada. Bem, vejamos, na temporada anterior, só DOIS membros da equipe sobreviveram, e isso porque um deles, Jack Harkness, é imortal. A base deles foi destruída, ou seja, tudo que era governamental ou do tipo com o nome Torchwood acabou. Então é meio óbvio que iria ter que mudar bastante coisa.

E também vi gente reclamando que a trama não tem algo muito alienígena, bem, sinceramente, eu agradeço por um pouco mais de criatividade, porque ainda nos deparamos com algo bem sobrenatural que é o fato de que as pessoas param de morrer no mundo inteiro e há muita reflexão, debate, valores morais questionados, tudo por causa de um mundo em que as pessoas simplesmente não morrem. E foi muito boa a meu ver. Os personagens introduzidos, o detetive da CIA Rex Matheson, a doutora Vera Juarez, Esther Drummond, que foram colocados para substituir Owen, Tosh e Ianto, meu, eu sinceramente achei os personagens e os atores bem melhores que seus antecessores.

E os efeitos especiais e cenas de ação estão melhores que nas temporadas anteriores graças a um orçamento maior e vi gente reclamando disso porque era mais uma perda de identidade. Mano, eu não entendo como algo ruim possa ser uma identidade. Os efeitos de Doctor Who a alguns anos eram um lixo e se você compara as temporadas do Peter Capaldi com as do David Tennant, mesmo com as do Matt Smith, você nota uma melhora clara e para mim mais do que bem vinda, mostra não só algo mais agradável e bem feito, como também comprometimento e esforço com a série.

E tivemos mais uma dose de Russel T. Davies que para mim se teve algum corte no roteiro, eu só encaro com as pontas deixadas soltas para uma nova temporada e aquela introdução no final do amor do passado do Jack que remete às três famílias, que teriam causado a parada de mortes no mundo, o evento chamado de milagre. Miracle Day. Ou o fato de terem tornado o Rex imortal também.
E também acho uma má ideia matar a doutora Juarez e a Esther, não só porque me apeguei às personagens como muita gente se apaga às companions do doctor, mas também por terem acabado de serem introduzidas para supostamente formar uma nova equipe Torchwood. Mas não acho que deva reclamar muito, pois as mortes foram todas bem feitas e escritas e isso é algo que eu sempre admirei em Russel T. Davies. Ele sabe matar bem tanto quanto George R. R. Martin. Ele só não matou o doutor e Jack porque eles são peças fundamentais e... Bem, imortais não? O Doutor pode morrer, mas sabemos que ele irá se regenerar.

E eu acho que é isso que nos faz muitas vezes nos apegamos aos personagens secundários. Pois nós sabemos como esses personagens se relacionam com os outros. Eles não podem morrer, então se preocupam bem mais com seus amigos e quando eles morrem, o sofrimento acaba sendo maior e isso é passado para o telespectador.

Eu senti bem mais, chorei, pelas mortes ocorridas em Children of Earth e Miracle Day do que qualquer outra morte de membros da equipe nas outras temporadas da série.
Eu não reclamo dessa nova roupagem em Torchwood. Olhe Doctor Who com Peter Capaldi. Olhe Doctor Who com Christopher Eccleston. Olhe Doctor Who com Paul McGann, ou com Colin Baker, Tom Baker, William Hartnell... São todos diferentes, alguns tem diferenças gritantes visualmente, pelas histórias ou pelas personalidades em seus doutores. Mas mesmo assim, mantiveram várias coisas da série.
Com Torchwood não foi diferente. Ainda temos membros recrutados por Jack. O próprio capitão Jack Harkness é um ponto que não mudou nunca na série assim como seu casaco militar. Ainda temos Gwen Cooper que teve um desenvolvimento muito bom, com a filha nascendo, seu marido Rhys e também o amigo policial Andy, todos muito bem interpretados e com mais espaço, o que foi muito legal de se ver. Especialmente do Rhys. E é claro, ainda temos uma equipe de especialistas em suas áreas lutando contra algum grande mal. Males que em Children of Earth e Miracle Day fariam o próprio doutor coçar a cabeça sem saber como solucionar tudo.
E termino dizendo que eu não vi a sede da Torchwood se mudando para os EUA. Porque não tem sede nenhuma, foi tudo destruído, e quer goste ou não, eu achei isso muito bom, foi uma ousadia bem feita e que não comprometeu com a criação de uma boa história.

Recentemente, John Barrowman, o ator que fez o capitão Jack, disse que está negociando para trazer Torchwood de volta à TV. Não sei como vai ser, aliás, ninguém fora do projeto sabe, será que seguirão com as histórias feitas em animação e áudios? Ou vão simplesmente tentar algo novo parecido com a volta de Doctor Who em 2005? Teremos a volta da Gwen? E quanto a Rex Matheson, o outro imortal? Ou vão ignorar que Miracle Day existiu de tamanho desgosto que foi recebida?

Vejamos como vai ser.
Só sei que se fizerem uma nova temporada, que tenha pelo menos um ÚNICO episódio com aparição do doutor. Foi muito broxante quando ouvirmos o som da TARDIS dentro da sede da Torchwood no final da primeira temporada e... E é só isso. E a Martha Jones lá, apesar de legalzinha, pareceu muito com um prêmio de consolação. Premiando aqueles que queriam o doutor aparecendo em Torchwood e tiveram que se contentar com a Martha, que apesar de eu gostar da personagem e da atriz, é uma das companions mais impopulares da série, diga-se de passagem.


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