sábado, 23 de maio de 2015

A Origem dos Guardiões - Infância, Fé e Lição

Conhecem o Blog do Amer? Não? Eu já comentei sobre ele aqui no Waltlinia e já enchi o saco dos meus amigos para o acessarem, já que eu acho seus artigos muito bons, mesmo que demorem séculos para sair, pois são sempre regados com o humor infalível de Amer e reflexões e uma das coisas que aprendi foi as lições e mensagens que podem ser feitas pelos desenhos. Nisso, vou comentar sobre um filme que só via agora, 2015. A Origem dos Guardiões.
Resultado de imagem para a origem dos guardiõesEu tenho um certo que receio com trabalhos da Dreamworks. A meu ver, ou vai ser algo muito legal, ou muito ruim. Dificilmente ficam no mais ou menos, que é o que a PIXAR tem ficado nesses tempos com Carros 2, Aviões, Universidade Monstro e Valente.
Mas quando vi o trailer, lembro-me que na época fiquei com vontade de ver. Não senti que ia ser algo como o Shrek 4, Madagascar 2, Por Água Abaixo.
Mas a Dreamworks realmente arrisca. Shrek foi um grande avanço, foi com os filmes de princesa da Disney o que Memórias de Um Sargento de Milicias foi para os outros romances da época. Zoando tudo, o herói é um ogro nojento e humorado.
Esse arriscamento traz bons resultados: A Fuga das Galinhas, Como Treinar Seu Dragão, Kung Fu Panda, mais ou menos como Os Croods e Mega Mente e os ruins já citados que também tem o Monstros VS Alienígenas e Os Sem Floresta. Tipo, desses que eu chamo de ruins, não vi uma coisa muito forte, quero dizer, não estavam no mesmo nível, como se apesar de passarem certas lições para seu público-alvo, foram ou sem muito criatividade ou porque não trabalharam muito bem.
Mas falando de A Origem dos Guardiões, baseado na obra de William Joyce, produzido por Guilhermo Del Toro e dirigido por Peter Ramsey, já dá para ver que vai sair coisa boa.
No mundo de hoje as crianças cada vez mais tem menos fé. Não estou falando de fé religiosa, nem do Papai Noel ou do Coelhinho da Páscoa em si, mas sim do que eles representam. As crianças estão cada vez menos imaginando e mais recebendo a imaginação de produtores. E isso é bom até certo ponto.
Bom, a história é que o Bicho Papão (Breu) quer dominar o mundo fazendo as crianças não acreditarem mais no Homem da Areia (João Pestana), na Fada do Dente, no Coelho da Páscoa e no Papai Noel e assim as crianças só teriam medo e só acreditariam nele. E nisso entra o herói, Jack Frost, figura da mitologia nórdica incorporada em algumas nações do hemisfério norte, responsável pela estação do inverno e pela neve, que não é um Guardião como os outros e assim como o vilão da história, as pessoas não acreditam nele. O vilão porque os pais falam "não tem nada debaixo da cama" e Jack Frost porque... Bem, Jack Frost... Não tem-se lá muito motivo para acreditar nele de fato.
Bom, eu vi gente reclamando, sobre o consumismo. Claro, natal é uma época capitalista, choque. Mas não quando a gente compra o presente só para aquelas pessoas especiais mesmo. Ah, mas as crianças só ficam ligando para os presentes, tem umas que sim, tem as que são mimadas mesmo, mas tem aquelas que sabem diferencia o que é mais importante que um presente.
Eu vi uma crítica dizendo que Papai Noel e Coelhinho da Páscoa eram representados como magnatas indústrias... Mas isso já é meio que um conceito já estabelecido. Papai Noel tem uma fábrica no Polo Norte. Coelho da Páscoa no filme nem empregados de verdade ele tem. E... Eles fazem isso de graça só para deixar as crianças alegres. O que dá para tirar disso? Altruísmo. Dá algo para o outro. A criança recebe o presente hoje, e dá um beijo e um abraço de volta, quando compreende o significado que pode vir com o presente e no futuro, ele dará para seu filho essa mesma coisa junto com o objeto que recebeu quando era criança.
O filme também respeita a inteligência das crianças, com relações com o conto da tartaruga e a lebre, Alice no País das Maravilhas, a boneca russa, os dentes e as memórias, o esconderijo do vilão, e as piadas. As piadas e cenas de humor são bem descontraídas, sem forçar nem nada, sutis ou exageradas como o Papai Noel seria exagerado na vida real.
Chamaram eles de Os Vingadores das Crianças, algo assim, e realmente é verdade. Especialmente porque estão todos modificados e modernizados. Papai Noel é um cossaca russo, tatuado e que luta com duas espadas. Coelho da Páscoa é alto e luta com bumerangues, Fada do Dente é meio mulher, meio pássaro e está muito bem feita e ganha grande importância, especialmente ao darem significado de porque ela recolher os dentes e deixar uma moeda. E Sandman (homem da areia/João Pestana) está um ótimo rival para o Breu (Bicho Papão), claro, já que um traz bons sonhos e o outro provoca os pesadelos. A figura de Jack Frost como um jovem que tenta se conhecer e ver onde se encaixa no mundo e com os Guardiões e de ser aceito também é muito bem feita. Bem feita também é a computação e os efeitos especiais. O 3D é usado de maneira incrível.
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Mas o filme também tem suas partes dramáticas, inteligentes e tristes. Como a transformação do garoto em Jack Frost, e as lições. Mostrando que o Coelho da Páscoa pode não deixar os ovos e o Papai Noel faltar com os presentes e até mesmo a Fada do Dente não deixar a moedinha, mas mesmo assim eles existem se as crianças acreditam neles. Eu acho que o filme passou não que as crianças precisem dos objetos para acreditarem nesses seres e sim que a felicidade e inocência já bastam. E o ovo e o presente também é bom, o que, são crianças, dá um tempo. Até adulto gosta quando ganha alguma coisa, nem que seja um desconto no restaurante no meio da semana que dificilmente você conseguirá usar.
E a lição e as mensagens também são muito boas. O Coelhão (do Hugh Jackman) explicando o significado da Páscoa, ele deixa de lado Jesus, mas pega a mensagem. De ser uma nova vida, uma segunda chance, esperança. Os dentes a Fada do Dente os guarda porque assim guarda as memórias importantes das crianças e assim elas podem acessá-las quando precisarem. Pela nossa boca a gente pergunta, experimenta as coisas, comestíveis ou não, de fato uma boa analogia. E com Jack Frost (do Chris Pine) para aqueles que são mais velhos e se identificarem aí é o velho papo de descobrir a si mesmo. E tem também uma parte para os adultos, quando Papai Noel fala que não tem tempo para observar as crianças enquanto faz brinquedos para as crianças... Pais ausentes, essa foi para vocês.
E no final, quando o Breu (do Jude Law) está para atacar os Guardiões enfraquecidos com força total, as crianças ficam na frente deles. Ou seja, estão protegendo aquilo que prezam, a felicidade, a empatia e a esperança que cada um representa, contra o monstro. O Breu pergunta se ainda não acreditam nele. A criança que lidera as outras, o Jamie, responde:
"eu acredito em você. Eu só não tenho medo de você" - brilhante. A criança sabe que existe sim coisa ruim, mas não deve deixar-se abalar por isso, por isso deve fortalecer o outro lado que os Guardiões representam e enfrentar seus medos. Seus pesadelos.
Resultado de imagem para a origem dos guardiõesInfelizmente parece que a bilheteria não foi lá muito boa, mesmo com as várias críticas positivas. Uma pena, pois eu achei um dos melhores trabalhos da história da Dreamworks. Um dos poucos filmes dos últimos anos que respeita a inteligência das crianças. Esse papo de que a pessoa adulta hoje não se diverte com os desenhos e filmes infantis porque cresceu algumas vezes é verdade, mas em outras é porque o negócio não é bom mesmo.

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