Spotlight
Gosta de filmes como Maldito Futebol Clube, O Discurso do Rei, A Rede Social e O Jogo da Imitação? Então vai amar Spotlight. Bem, o que todos esses filmes tem em comum? O ambientam em uma época do passado (tudo bem que Spotlight ocorre numa época recente, mas não deixa de ser passado, especialmente hoje em dia em que o tempo parece passar mais rápido) e contam alguma história que quase ninguém ou poucas pessoas sabem.
Mas enquanto esses filmes citados focam nos dramas das suas personagens, Spotlight deixa o drama pessoal de cada um de lado e se baseia principalmente no que eles estão fazendo, no caso, uma grande investigação jornalística para expor ao mundo os escândalos de abuso e pedofilia praticados por padres e que é algo que mesmo nos dias atuais pensamos ser algo pequeno, um caso ou outro, quando na verdade, é pior do que pensávamos.
A equipe do jornal de Boston é interpretada por atores que dão tudo de si para fazer um ótimo longa. Se alguém achava que o Oscar para Michael Keaton era exagero por estar interpretando a "si mesmo" em Birdman, aqui ele mostra que não é um ator de terceiro escalão, muito pelo contrário. Mark Ruffalo em diversas partes rouba a cena e merece ser premiado. Diria que ele tem seus momentos de calma, mas também os seus de explosões, Bruce Banner virando o Hulk (nem tanto, mas acho que me fiz entender).
Os outros atores, como Rachel McAdams, estão bem, estão legais, mas nada excepcional. Talvez com outros atores o filme não teria a mesma carga dramática ou uma história que flui tão bem, naturalmente e sem parecer enrolada, mas de certo que não foram atores que se destacaram, mas também vale visar que os papéis não permitem mesmo muito isso, afinal, apesar de jornalistas investigativos, são pessoas normais. Ao contrário de A Grande Aposta, que tem personagens pra lá de esquisitos ou de características fortes.
Eu juro que sai mudado da sala de cinema. Eu fiquei... Como um leitor de jornal que vê na primeira página uma matéria bombástica, que pode abalar estruturas da sociedade. Talvez só em metade dos EUA, já que muitos são protestantes, mas eu acho que o filme merecia mais destaque aqui no Brasil, por exemplo, dado que somos um país muito religioso e católico.
Será um filme que atravessará gerações? Provavelmente não, pois filmes baseados em fatos reais desse tipo normalmente causam muito no ano em que são lançados e aos poucos vão perdendo seu brilho. Eu, honestamente, acho triste, pois gosto desses tipos de dramas, apesar de poderem ser rotulados "filme para ganhar Oscar".
Spotlight vale muito à pena ser assistido no cinema. Não perca. E se já saiu de cartaz, fique de olho na TV.
A Grande Aposta
O filme também pega essa coisa de pegar uma história real não muito conhecida ou completamente desconhecida e transformá-la em um filme. Há os mais românticos, como o caso do Titanic e há os que se focam na comédia e humor, como O Lobo de Wall Street. A Grande Aposta se foca no humor de uma maneira muito bem feita. Gargalhadas garantidas para esse filme que mostra mentes geniais que previram a crise mundial de 2008.
Numa época em que temos House of Cards com quebra da quarta parede, A Grande Aposta faz isso com maestria, seus personagens são muito cativantes, especialmente por todos eles terem em comum o fato de que eles estão certos, mas são ridicularizados por todos os outros, o que acaba fazendo com que torçamos por eles.
E é engraçado o modo como no meio do filme por final, percebemos que estávamos torcendo para eles, mas eles não são os heróis. Não são os good guys. São apenas pessoas que viram a oportunidade de ficarem super-ricas, com a perda de milhares no mundo todo (mesmo que eles não pudessem fazer nada para impedir a crise de 2008). Acho que no final, eles não são os vilões, mas são menos ainda os bonzinhos.
Christian Bale, pode fazer muitas críticas à sua pessoa, mas é um baita ator, Ryan Gosling mostra que não é só um galã de romances e se der um bom Coringa em Esquadrão Suicida, então é um ator que sabe interpretar diferentes papéis como Bale. Brad Pitt faz interpreta um personagem pra lá de estranho e inteligente, não exige muito de si, mas é também um estilo diferente do que estamos acostumados a ver o galã de Hollywood. Steve Carell é o ator principal (são quatro, a história se divide em 4 arcos entre eles) que mais está em sua zona de conforto, mas isso não desmerece seu papel, pois não é só cômico, como também bastante carregado de drama, sendo para mim o melhor ator do filme.
É muito engraçado como celebridades, tipo Selena Gomez, explicam economia de uma forma dinâmica e didática para a platéia não ficar boiando em meio a tantos termos estranhos.
E por curiosidade, Karen Gillan está no filme. Whovians piram.
Mas o filme, apesar de engraçado e leve, tem uma mensagem muito pesada, especialmente no final, em que não temos mais vontade de rir, e se rimos, é porque rimos para não chorar. E é também muito frustante, do mesmo modo que Spotlight nos faz ficar irritados com os casos encobertos pela Igreja de pedofilia, ficamos zangados como os bancos e governos caminharam para uma crise que resultou na falência de muita gente, desemprego em massa, perdas de moradias, suicídios em grande escala como normalmente acontecesse nesses casos, e no mundo inteiro.
-Recomendo assistir a A Grande Aposta depois de Trabalho Interno (narrado por Matt Damon que não ganhou um tostão com isso, foi de boa vontade mesmo). Um documentário bem didático, que explica toda a visão geral da coisa. Mas A Grande Aposta faz consegue nos colocar na pele das pessoas que sofreram com a crise, coisa que Trabalho Interno não faz, transformando tudo em números.
Então assista Spotlight e A Grande Aposta sem medo de se emocionar.