Sabe o que é uma simulação? Sabe o que é a ONU? Então já deve ter uma ideia do que vou falar. Eu estive no XV Fórum FAAP 2015, pelo meu colégio Palmares, representando a República de Fiji, na AGNU.
Eu não estava muito convicto de que conseguiria. Fomos avisados meio encima da hora de que o Palmares iria participar e eu fiz minha redação do tema a importância da ONU no século XXI e sinceramente, eu achava que era nula com tudo que acontecia no mundo, mas pesquisando eu vi o quanto o mundo estaria pior sem ela.
Ainda é uma mangueira de jardim contra o fogo, mas melhor isso do que nada.
A redação decidiria quais países cada escola representaria. Melhores redações, países melhores como Estados Unidos, Japão, Rússia, China, França, Alemanha, etc. Eu peguei Fiji. Minha nota de redação não foi o que eu queria.
Mas como era a primeira vez do Palmares nisso, eles não iriam dar nenhum país muito forte mesmo. Mas dava para ter pego algo melhor que Fiji. Defendi Fiji no fórum, mas preferia ter pego um país em que mais do que a metade dos meus amigos conhecesse a existência.
Minha colega de delegação foi uma colega um ano mais nova que eu no ensino médio, Yimer. Uma garota simpática e nascida na China. Já está a alguns anos no Brasil e fala português melhor do que muita gente que eu conheço que fala "vou ir". Ela tem seus tropeços, mas confesso que nem percebi.
Também nem percebia a diferença de sotaque entre nordestino e paulista, então não sou uma fonte confiável nisso.
No meu ano (3º médio) minhas colegas Isabela e Mariana ficaram com Uruguai na ONASUR, minha colega Stephanie também pegou Uruguai, só que na AGNU. E do 2º médio, Ítalo e Laura ficaram com Namíbia (AGNU), Eduardo com Fiji (AGNU), Ferreira ia de Sudão (AGNU).
Tivemos umas simulações com estudantes da FAAP, fomos até o local, pesquisamos um pouco sobre nossos respectivos países e fizemos um documento sobre nosso país em relação a reforma no Conselho de Segurança da ONU (tema de nosso debate) e como nosso país contribuía para ONU.
Fiji é um arquipélago na Oceania colonizado por britânicos, que exporta açúcar, coco, frutas, contribuí com soldados para missões de paz e que passou por vários golpes e regimes militares com censura de imprensa e prisões políticas, tendo eleições democráticas em 2014, além de ter uma boa parcela de população hindu. Ah, e também um local muito requisitado para férias por causa de suas praias.
Mas falaremos agora do que interessa mesmo, o primeiro dia do fórum.
Foi muito legal porque logo de cara reencontrei pessoas que estimo muito. Martim e Rebeca, do Santa Cruz, representando Dinamarca e uma ONG respectivamente e Olívia, do Vera, como Catar. Eu os conheci quando ainda estudava no Vera Cruz, e bem, teve o lance de por o papo em dia e tal.
Vale ressaltar que seguíamos o dress code. Ou seja, eu como a maioria estava de terno e gravata. O dia tinha sol, mas tinha vento, principalmente a noite, e dentro da sala o ar-condicionado era insano, então o traje foi muito útil, além de me deixar bonito. Terno e gravata pode não ser a roupa mais confortável do mundo, mas deixa qualquer um mais bonito.
Na AGNU a mesa (com as estudantes da FAAP, uma delas, Leticia, ajudou nós do Palmares com os treinos) deu inicio a sessão. Primeiro cada dupla de delegados se apresentava. Percebi que todo mundo falava sobre estar ansioso e até receoso. Decidi então quebrar o gelo ali.
Depois que a Yimer se apresentou, eu peguei o microfone e falei algo como:
"oi pessoal. Meu nome é Walter, somos do Palmares representando Fiji, e eu ouvi que tem muita gente em seu segundo ou terceiro fórum e gente que está aqui pela primeira vez. Bom, é como Matrix ou A Origem, sempre se aprende algo a mais ao ver mais uma vez o filme. Apesar de ser uma simulação, espero que tenhamos a seriedade necessária e que tenhamos um debate melhor do que esses que se vê no Facebook"
acho que deu certo. Recebi muitos aplausos diplomáticos. Aplausos diplomáticos são você levantar as mãos e fica girando elas, quase como se você estivesse agradecendo por um milagre. É assim para não fazer barulho ou atrapalhar quem estiver discursando.
Outros delegados em seus discursos também se destacaram. O Rodrigo de Liechtenstein exaltando sua "amada Europa" ou o Fernando da Jordânia também agradecendo a Alá.
E eu estou falando os nomes de todo mundo só para o leitor aí se sentir mais por dentro do negócio.
Através de bilhetinhos em que os Staffs levavam feito carteiros, os países estabeleceram suas alianças. Seguindo a política externa de Fiji, estabelecemos contato e alianças logo com Nova Zelândia (da Amanda, cuja colega estava doente e não foi), Austrália (de Miguel e Fernanda), Indonésia, Japão (Vitor e Pedro) e Índia.
Para aquecer e saber como seria, um rápido debate foi feito sobre a legalização da maconha. Todo mundo se colocou a favor, só uma delegação foi contra para que tivéssemos um debate ao invés de uma palestra a favor da maconha. Acho que foi o Quênia, mas também pode ter sido o Brasil.
Depois de um intervalo, nós começamos a falar da reforma do CSO (em que a África quer mais representatividade e o G-4(Alemanha, Brasil, Índia e Japão)) querem assento permanente (os outros permanente são EUA, China, Rússia, França e Reino Unido).
Também vi o que era a sala anexa.
Tem a sala principal, que é uma sala de faculdade, dessas com palco e poltronas, quase como um teatro grego. A sala anexa é uma pequena sala ao lado em que os delegados podem falar a vontade com quem quiserem sem ter que ficar ouvindo discurso ou com a necessidade de bilhetes (exceto para falar com seu colega, já que só um delegado de cada dupla podia ir para a sala anexa) e também onde fazíamos as negociações, estabelecíamos alianças e redigíamos documentos.
Não sei se na ONU de verdade é assim mesmo, mas creio que já temos mais conhecimento de como ela funciona do que muita gente fora dela.
Também ressalto que para participar disso a pessoa deve gostar mesmo do assunto. Principalmente porque perdemos o feriado de junho por causa disso, com provas e testes rolando em nossas escolas. Mas para mim valeu a pena, foi muito legal desde o inicio. Eu sempre gostei de políticas, de países diferentes, de bandeiras, e essas coisas.
Bom, como foi só o primeiro dia, só para pegar no tranco, a gente sabia que o trabalho para valer ainda estava por vir.
Depois teve um pequeno buffet no salão da FAAP onde todo mundo pôde relaxar e confraternizar. A comida inicial eram só mini-churros. Eu peguei os dois últimos. Tinha uma multidão na mesa. E eu tenho menos que 1,70 m de altura. Não foi fácil.
O Miguel da Austrália rapidamente mostrou seu plano em seu notebook (os caras iam com computador e tablet, olha o profissionalismo deles, e eu que nem com caderno fui) de dividir o mundo em dez novas zonas, como Ásia Austera, África Sub-Saariana, enfim, as divisões que meio que já existem. Ele queria isso para que assim cada país pudesse se identificar melhor com os outros de sua zona e isso afetaria também a representatividade na ONU. Como Fiji depende de seus vizinhos grandes da Oceania, eu e Yimer mostramos nosso apoio.
Nessa mesma noite também apresentamos nosso apoio ao Marcelo (Suíça) que estava com um plano de reforma no conselho e já estava juntando muita gente como aliados. Não era a primeira vez dele no fórum e ele já manjava como tinha que agir.
Bem, foi isso o primeiro dia. Ah, eu também fiquei preocupado de ir com meu cabelo, porque ele é despenteado e ondulado e dependendo fica até cacheado, mas eu vi um cara com cabelo bem rockeiro (liso e comprido) e outro usando rastafári e eu acho que ele não representava algum país como a Jamaica.
Ou se representava, mandou bem.
Logo publicarei sobre o segundo dia.